Origens

A Itália de Giovanni Ortensi

Um Mosaico de Impérios, Culturas e Crises

A história de Giovanni Ortensi foi profundamente influenciada pelo complexo contexto da história italiana. Para compreender sua jornada, é preciso lançar um olhar sobre os séculos que moldaram a península itálica, desde seu apogeu imperial, de onde vieram as raízes de sua família, até os turbulentos anos da Reunificação e as crises que marcaram o século XIX, quando Giovanni nasceu. O texto a seguir mostra a origem e a trajetória do sobrenome Ortensi.

Séculos V a.C. até XIX d.C.

Do Apogeu Imperial à Ascensão das Cidades-Estado

Na era dos Césares, a península itálica foi sede do maior Império da história humana, e sua principal cidade, Roma, era conhecida como a ‘Capital do Mundo’. A queda desse império, no século V d.C., inaugurou um período de intensas transformações, com a península sendo sucessivamente invadida e moldada pela presença de povos como hunos, godos, e vândalos, que deixaram suas marcas culturais e políticas.

A partir do século VI, a Itália foi anexada ao Império Bizantino, uma influência que, embora remota, contribuiu para a diversificação cultural da região. Com o tempo, essa fragmentação deu origem a vibrantes cidades-estados independentes.

Sustentadas por um comércio florescente no Mediterrâneo e com o Oriente, Veneza, Gênova, Nápoles, Roma e Florença emergiram como potências inquestionáveis, exercendo uma influência cultural, política e econômica que reverberou por todo o Ocidente. Era um período de grande efervescência artística e intelectual, que legou ao mundo algumas das maiores obras da humanidade e marcou o Renascimento.

A origem do sobrenome Ortensi

A ‘Gens Hortensia’ do Lázio

Durante a Idade Média, o dinamismo das cidades-estados propiciou o surgimento de famílias de grande poder e influência. Algumas detinham raízes na nobreza, enquanto outras, de origem plebeia ou aristocrática, ascenderam por sua prosperidade no comércio, na cavalaria ou em ofícios de grande valor social, como os de advogados, oradores, doutores, artistas e cientistas. A tradição aponta que algumas dessas linhagens remontam ao próprio Império Romano, como é o caso da família Ortensi (também grafada Hortêncio, Ortenzi, Hortensi e outras variações). Segundo informações do Heraldrys Institute of Rome. (Instituto de Heráldica de Roma: consulte a página de Referências) o sobrenome Ortensi teve sua origem na Gens Hortensia

No contexto da Roma Antiga, Gens era um termo que representava a identidade de um determinado conjunto de famílias, geralmente integrantes da aristocracia. Os membros de uma Gens encontravam-se ligados por uma linhagem definida pela ancestralidade comum e pelos feitos militares de seus antepassados. O mais ilustre membro da Gens Hortensia foi o orador Quintus Hortensius, um homem de grande erudição e contemporâneo de Cícero.

Sob o Império, a Gens Hortensia parece ter se mantido em relativa obscuridade, com poucas referências históricas. Os remanescentes da gens voltaram a ter notoriedade no século XIV d.C., já com a grafia Ortensi, na região do Lázio (província central da Itália, cuja capital é Roma). Foi ali que Augustus Ortensi, um Cavaleiro Cruzado, distinguiu-se em importantes combates. A partir dessa época, membros da família se distribuíram por várias regiões da península itálica, estabelecendo novos ramos e influências.

O Brasão da Família e a citação a seguir são do Heraldrys Institute of Rome:

Brasão da Família Ortensi
Brasão da Família Ortensi
(Clique para ampliar)

ORTENSI – Família do Lazio antiga e ilustre, de virtude clara e ancestral, cuja tradição indica descender da famosa Gens Hortensia. A origem dessa cognominação, em nome de genealogistas ilustres, deve ser procurada no nomen latino Hortensius, o nome nobre, de fato, de Gens Hortensia.

De qualquer forma, essa família provavelmente gozava dos privilégios da cavalaria desde o século XIV, ou desde a época em que floresceu Augustus Ortensi, um cavaleiro cruzado, que, bravamente, lutou sob as bandeiras do cardeal Albornoz, no interior, que subjugou Lazio, Spoleto, o Montefeltro de Urbino, o Malatesta de Rimini e os Ordelaffi de Forlì. Mas, por outro lado, a família sempre conseguiu se distinguir, graças aos personagens elevados, aos quais deu à luz

Heraldrys Institute of Rome (Instituto Heráldico de Roma).

Século XIX

O Risorgimento, a Crise e a Emigração

O século XIX foi marcado na Itália por um crescente sentimento de unidade nacional, dando origem ao movimento chamado ‘Risorgimento’. Este movimento, alimentado pela insatisfação das classes mais poderosas com o domínio estrangeiro – em especial de alemães, austríacos e franceses – visava superar séculos de fragmentação e ausência de um poder militar capaz de fazer frente às potências europeias. Após a queda de Napoleão Bonaparte, a fragmentação do poder europeu permitiu que diversas regiões da Itália iniciassem um processo de independência e unificação.

Esse processo foi consolidado por Giuseppe Garibaldi que, em 1860, proclamou o Reino Unido da Itália e coroou Vittorio Emanuelle II, antigo rei do Piemonte, como monarca de toda a península. Para completar a unificação, contudo, ainda restava conquistar das mãos dos austríacos algumas regiões habitadas por cidadãos de língua italiana. Estas áreas, denominadas ‘Terras Irredentas’, incluíam o Vêneto, Trentino-Alto Ádige (Tirol) e Venezia-Giulia, abarcando cidades estratégicas como Veneza, Pádua, Trento, Bolzano e Trieste.

Garibaldi conquistou Veneza e anexou a região do Vêneto em 1866. No entanto, os territórios de Venezia-Giulia (com seu importante porto em Trieste) e Trentino-Alto Ádige permaneceram sob controle austríaco. Nesse período, o recém-formado reino italiano enfrentava uma grave crise econômica, agravada pelos custos das batalhas. A rica região do Vêneto, em particular, foi submetida a pesadas taxas, que chegavam a 65% do valor dos bens de consumo. Além disso, a pesca — um meio essencial de subsistência na região banhada pelos rios Pó e Ádige —, a caça e a coleta de lenha foram proibidas à população, impactando severamente a vida dos camponeses e trabalhadores.

Em 1869, um novo imposto sobre a moagem de trigo, o “Imposto do Moinho” provocou o aumento dos preços do trigo e do milho, gerando uma profunda crise de fome e miséria na região, cuja alimentação era à base de pão, macarrão e polenta. Essa situação, somada às perspectivas de mais conflitos contra a Áustria, desencadeou um massivo processo de emigração. Entre os anos de 1866 e 1914, milhares de famílias deixaram o Vêneto rumo a países da América e da Europa Central em busca de uma vida melhor.

Nessa época, membros da família Ortensi já podiam ser encontrados em várias regiões da Itália, muitos deles pertencentes à aristocracia. Mas é certo que todos estavam sendo afetados pela crise política e econômica, e muitos também emigraram, principalmente para as Américas. Foi neste cenário de profundas transformações e desafios que, em 1º de abril de 1876, um recém-nascido foi deixado em um orfanato na cidade de Rovigo, região do Vêneto. Seu nome: Giovanni Ortensi.